sábado, 26 de julho de 2008

A VIDA BROTA NAS DUNAS




É insuportavelmente longo o inverno no litoral gaúcho para seres humanos que não têm renda fixa e cães sem donos. Os biscates rareiam para os humanos, assim como os churrascos dominicais que fazem a alegria dos canídeos. O lixo das poucas casas de moradores é disputado por cães organizados em matilhas, cada uma dona de uma área, defendida em brigas que não raro resultam em ferimentos graves e mortes.
Para as famílias humanas existem programas sociais que garantem a subsistência e a assistência médica, mas cães e gatos não merecem qualquer atenção por parte das prefeituras. Como o frio e a alimentação deficiente não os impedem de se reproduzir, é comum aparecerem ninhadas em varandas de casas vazias, obras e outros lugares onde as cadelas possam se abrigar até os filhotes crescerem o suficiente para lutar pelo seu alimento ou morrerem de frio e inanição, caso as mães não tenham leite suficiente para alimentá-los.
Mas há duas semanas os moradores do Imbé foram surpreendidos por uma cena comovente: duas cadelas cavaram buracos - verdadeiras grutas - nos cômoros de areia próximos à avenida Caxias, e lá tiveram suas ninhadas. Dias depois do parto, reuniram os filhotes num só buraco, e passaram a cuidar deles juntas. Enquanto uma fica junto a eles, e os amamenta, a outra fica de guarda, não deixando estranhos se aproximar. As exceções são aqueles moradores como Pedro e Jane, Sérgio e Malu, que passaram a levar-lhes água e comida, e estão tratando de conseguir quem adote cadelas e filhotes. Todos são lindos e com boa saúde, como mostram estas cenas gravadas pela Jane e colocadas no Youtube:

http://www.youtube.com/watch?v=2b8p0Z4yfiA




Ponto final: uma história tão bela teve um desfecho trágico. Na madrugada chuvosa desta quarta-feira, dia 30, as duas cadelas e alguns filhotes morreram soterrados na gruta. Os seus protetores haviam construído uma casinha para elas, mas aparentemente as cadelas continuavam considerando que o buraco que cavaram era o melhor refúgio para escapar das chuvas fortes que já duravam três dias. Com o peso da água, a areia desabou sobre os animais.
Só sobreviveram os cinco filhotes que já haviam sido levados para adoção.





6 comentários:

Anônimo disse...

Clóvis, não podemos deixar de mencionar o ótimo trabalho da Luciane, que fez uma casinha para essa linda família, e que, além de colaborar com a comida, também conseguiu adotantes para os 8 filhotinhos. São muitas pessoas envolvidas: Paulinho da Filler, Sérgio, Maya, Cristina, vó Ceci, todos com um ponto em comum: o grande amor pelos animais. Não há como não nos encantarmos com a perfeita organização social delas! Um exemplo para nós, humanos! Um abraço. Jane.

Anônimo disse...

Oi, Clóvis! Vejo que o vídeo feito pela minha mãe em Imbé foi parar aqui no teu blog. Legal mesmo. É preciso divulgar estes milagres da natureza. O que aconteceu com estas cachorrinhas é inacreditável. Abs!
Camila

Unknown disse...

E aí, Clóvis, bacana isso, parabéns por divulgar. Abs.

Ulisses.

Anônimo disse...

Clovis,
Deus abençõe a todos que foram solidários ao concretizar essa ação da maior dignidade. O ser humano tem o dever de zelar pelos animais; somos racionais, eles não. Por isto me revoltei - e torço para que nenhum vereador de Porto Alegre se reeleja - por terem aprovado a lei infame que manterá carroças em na capital por mais oito anos. Seria mais humanitário encontrar uma criar opções de trabalho para os carroceiros (veículos automotores especiais, etc) e liberar os coitados dos cavalos de serem condenados a mais oito anos de sacrifícios por culpa de quem aprovou a tal lei.
Teu pessoal de Imbé reúne mais mérito para ser vereador em Porto Alegre do que qualquer dos atuais que lá estão.
Parabéna divulgação dessa história comovente.
Forte abraço.

Clovis Heberle disse...

Jane,
que bacana que os filhotes já foram todos adotados. E obrigado por acrescentar os nomes das demais pessoas que se envolveram na salvação da ninhada.
Camila, querida,
veja que coincidência, você é filha da Jane, minha vizinha aqui no Imbé.
Um abraço saudoso!

Ulisses e Emanuel,meus amigos,
fiquei duplamente emocionado com esta história: pelo exemplo de companheirismo das duas cadelas, que se uniram para salvar os filhotes, e pela solidariedade dos meus vizinhos, alguns dos quais nem se conheciam antes, para salvar os bichinhos.
Abraços
Clovis

Eliziário disse...

Bela história, Clóvis. Parabéns.