sábado, 2 de dezembro de 2017

AS REDAÇÕES DOS JORNAIS


ANTES E DEPOIS DO COMPUTADOR



" Era proibido não fumar na redação". 
A frase é do Peninha, também conhecido como Eduardo Bueno, ao descrever seu primeiro dia de trabalho no jornal Zero Hora, em 1976. 
Até a informatização da redação, no fim da década de 1980, a situação continuava igual. Raros eram os repórteres que conseguiam escrever o lead de sua reportagem ou os editores que chegavam ao melhor  título da matéria  sem fumar um cigarro. 
No início da noite, quando a pressão pelo fechamento aumentava, a fumaça formava uma nuvem junto ao teto do salão, mesmo com o ar condicionado funcionando. Fumava-se freneticamente, e o matraquear das máquinas de escrever tornava o ambiente insuportável para um ser humano normal.
Todos, fumantes ou não, saíam dali com as roupas fedendo. 
De um dia para outro, tudo mudou. Os computadores não eram compatíveis com a fumaça, e as cinzas dos cigarros fatalmente danificariam os teclados. Fumar passou a ser proibido. A redação se tornou um lugar silencioso e já era possível voltar para casa sem estar cheirando a cigarro.
O fim daquele ambiente bagunçado afetou também o comportamento dos jornalistas. Cada um passou a se concentrar no seu terminal (era uma rede intranet), e as conversas, poucas, eram em voz baixa. Para fumar e fazer um lanche era preciso ir para o bar. 
Mas houve alguns inconformados com a  nova situação. Um repórter, recém chegado das grotas, entrou de botas embarradas, sujando o carpete recém colocado. A gerente administrativa, conhecida pelo seu pavio curto, correu com ele aos berros. 
E, toda a semana, o colunista Melchíades Stricher chegava com sua crônica escrita à máquina  - se recusava a usar o computador da redação para escrever - e, inconformado com tanto silêncio, bradava:
- Pandilha* de pica-fumo, isto aqui parece o IML na hora do pique!



 Jack Lemmon, repórter, (sentado) e Walther Mathau, editor, no filme Primeira Página, um clássico dirigido por Billy Wilder. 
O melhor repórter do jornal - daqueles que vivem para a profissão, sempre estressado, cigarro na boca e um uísque à mão - decide se casar e mudar de ramo para ter uma vida normal. Mas enfrenta uma feroz oposição do editor, que usa todos os seus recursos - oferta de aumento salarial, ameaças, chantagens - para não perdê-lo. 
O final? Vejam o filme. É sensacional.




Redação de ZH, em 1987.

 Foto de Ronaldo Bernardi

* Pandilha: quadrilha de malfeitores

COMENTÁRIOS NO FACEBOOK:


Herta Elbern Passando a vida a limpo!
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Carlos Eduardo Outros locais também eram assim por exemplo alguns deptos bancários.
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Paulo Motta Vânia Weber, minha querida amiga rigorosíssima!
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Solange Bittencourt era bem assim. Na TV a gente não fumava, né? Acho que na escada podia, mas não lembro
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Genoveva Penz Alguns cigarros nos contatos por telefone, cigarro prá estruturar o texto nas idéias, outro pq achou o formato, e por fim, aquele do título/lead 😂😂😂..Na redação da Gaúcha as notícias saiam literalmente quentes da nicotina dos cérebros esfumaçados.😁😁😂😂😂. Hoje em dia, estas cenas são inimagináveis . Mas eram tempos áureos que vivi no jornalismo..e valeram todas as coletivas baforadas inspiradoras
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Rita Daudt Eu já tinha tudo três filhos e não paradas de fumar diranteca gravidez. Um sentimento de culpa horrível. O Luiz Paulo trabalhava na AH e fumava. Eu na Rádio Gaúcha e fumava. Mas a consciência do malefícios veio p nos dois e paramos. Claro, a vida nunca mais foi a mesma!
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Gilberto Leal Clóvis, o pior é que estávamos acostumados a gritar no telefone pelo barulho das máquinas de escrever, dos telex e teletipos. Com o silêncio da nova redação , até nos acostumarmos, todos ouviam o que falávamos.
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Sandra Rodrigues Verdade.. cada palavra, Clovis!!! Rsrs
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Erika Hanssen Eu, que nunca fumei, adorei quando este milagre aconteceu. Mas estranhei o silêncio na redação, ah, isso foi demais.
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Claudio Ramos Agora moda vida saudável !!!!
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Jairo Raymundo Sem contar as lambanças provocadas pelos fios dos telefones enroscados nos cinzeiros ou copos de cafezinho. Ou, mesmo, o agrupamento de colegas em torno de uma lixeira, embaixo de uma mesa, à procura de uma ou outra anotação importante equivocadamente jogada fora.
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Flavio Damiani Muito boa Clovis Heberle, a redação perdeu a graça sem a presença dos pica-fumos. abs
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Arfio Mazzei Eu era um dos fumantes kkkkkk
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Flávio Dutra Os cinzeiros eram as latinhas de filme de fotos, sim os retratos de então eram fixados em filmes. Depois, as latinha recebiam uma pressão na borda que funcionava perfeitamente para receber o cigarro fumegante. Isso sem falar na disputa pelas melhores máquinas de escrever, se é que tínhamos desse quilate nas redações de então,
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Regina Lemos Kkkk... parece que estou vendo o Melchiades !!! E, na redação, também tinha uma birita sempre escondida, debaixo da mesa de um ou outro.Também era costume, cantar o Parabéns para o aniversariante amigo e jogar bolinhas de papel amassado na cabeça dos ...Ver mais
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Gustavo Heberle Deu pra ter uma idéia bem real de como foi essa mudança ... 
Parabens Clovis Heberle...

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Regina Lemos A primeira impressão que tive, ao entrar na redação de ZH para um estágio que durou um ano, foi de terror, pois como iria conseguir me concentrar para escrever o texto , com aquele barulho das máquinas de escrever. Em pouco tempo eu já estava acostumada .
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Regina Lemos Solange Bittencourt...sabes de quem era a birita, não?

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José Luiz Prévidi genial!!!! Hoje, o silêncio é ridículo!!! tudo limpinho!!!
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Regina Lemos Se cada um escrever um texto - pode ser um testículo, como dizíamos - e juntarmos todos , o resultado é um belo livro de memórias.Que tal Clovis Heberle?
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Nubia Silveira Saudades do Melchíades, da fumaceira, do rádio ligado, da gritaria e das bolas feitas com jornal voando de um lado para outro. Claro que me adaptei ao ambiente limpo, silencioso e sem cigarro. Mas, estejam certos, a bagunça era muito mais divertida.
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Monica Oechsler Vicenzi Foto linda! Uma relíquia !

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Ana Davila E tinha jornalista que, além do cigarro, precisava de etílico. Deixavam o casaco na cadeira na Redação e seguiam para o Chalé da Praça XV abastecer.Voltavam para a Redaçao com lead,manchete e textos impecáveis. De minha parte, só conseguia produzir com muito Café.E a barulheira das máquinas de escrever conferia uma atmosfera bem diferente das Redações de hoje. Saudades !!!!!

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15 h
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Regina Lemos Mais fácil era chegar ao Porta Larga, bem ali do lado.

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13 h
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Regina Lemos Agora lembrei...também faziam aviãozinho que voava pelo céu da redação e pousava na mesa ou ia direto para o chão.

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13 h
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Otálio Bordini Camargo Tantos comentários que fiquei perdido pra opinar. Enfim, parabéns Clovis Heberle pela lembrança. Tb fumei muito nessa histórica redação. Evitava o vício qd o LFVerisimo sentava ao meu lado numa mesa metálica verde pra redigir.

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12 h
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Gilmar Eitelwein A frase que ouvia do Melchíades ao adentrar a redação era "cambada de pica-fumo". Nos termos de hoje, acho que seria "bando de chinelo".

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12 h
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Otálio Bordini Camargo Regina Lemos.Um a cachimbava era o mestre Carlos Alberto Kolecza

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9 h
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Herta Elbern Bah, Clovis, admiro demais como pões alma nos teus relatos, o que se comprova através dos inúmeros comentários ainda mais apaixonados! Às vezes sinto uma nostalgia pelo que não me foi dado vivenciar: nunca trabalhei numa redação.

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7 h
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Luiz Vaz O futebol na redação nos criou uma encrenca, o Lauro ( diretor da redação) ficou louco certa vez , quando acertamos uma bolada( bola grande de papel) na Célia. Há o cara que fazia a melhor bola de papel era o Fraga( diagramador), tudo isto perto do fechamento do jornal, tarde da noite.

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Monica Oechsler Vicenzi Vcs tiveram o privilégio de trabalhar com o LFVerissimo? Isso é sensacional!!!

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6 h
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Imara Stallbaum Só para fazer um lide eu fumaça uns cinco e enchia o cesto de papel...

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4 h
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Imara Stallbaum Fumava...

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

AS DUNAS DO IMBÉ



Esta passarela, construída no final de 2016 em frente a avenida Caxias do Sul,  no Imbé, foi concebida para facilitar o acesso dos cadeirantes à beira da praia e para preservar as dunas da passagem dos banhistas. Um ano depois, a areia tomou conta da passarela. 




Uma retroescavadeira cortou a duna, a area foi retirada, e a passarela voltou a dar passagem.








                                                                     















sexta-feira, 13 de outubro de 2017

MONTEIRO LOBATO E A HOMEOPATIA




A homeopatia não é unanimidade. Há os que não se adaptam, até porque o diagnóstico correto depende de uma boa comunicação entre o paciente - que deve expressar com a maior precisão possível o que sente - e o médico, que precisa interpretar os sintomas para receitar o remédio e a dosagem certas. 
O escritor Monteiro Lobato descobriu a homeopatia em 1917 e se tornou um adepto entusiasta dela. 
Nesta carta ao amigo Godofredo Rangel, publicada no livro A Barca de Gleyre, Lobato conta como a descoberta aconteceu:



Fazenda, 3 de março de 1917

Rangel,

A HOMEOPATIA!... Eu pensava como você; ou pior ainda, não me dava ao trabalho de pensar coisa nenhuma a respeito. Não acreditava nem descria – não pensava no assunto e pronto. Mas um dia sobreveio o “estalo” e fiquei tonto. O meu Edgarzinho apareceu com uma doença  no nariz. Isso na fazenda. Ele tinha 2 anos. Corro a Taubaté. Consulto os médicos locais. “O melhor é ver um especialista em São Paulo.” Vamos a São Paulo. “ Quem é o baita para narizes?” J.J. da Nova. Vou ao Nova. Examina, cheira, fuça e vem com um grego: “Rinite atrófica. Só pode sarar lá pelos 18, 20 anos – mas vá fazendo umas insuflações com isso” e deu uma droga e um insuflador. Voltamos para Taubaté, muito desapontados. Dezoito anos! Mas minha casa lá era defronte à duma prima. Vou vê-la. Tenho de esperar na sala de visitas um quarto de hora. Em cima da mesa redonda está um livro de capa verde. Abro-o. “Bruckner, O Médico Homeopata”. Institivamente procuro a seção Nariz. Leio conjuntos de sintomas. Um deles coincide com os sintomas da rinite do Edgard. Prescrição: “Mercurius”. Entra a prima. Conto o caso do menino e aquele encontro ali. “Vale alguma coisa isto de homeopatia?”, pergunto, cético. E ela: “Experimente. Não custa.” Quando saí passei pela farmácia. “Tem Mercurius?” Tinha. Comprei 5 tostões. “Almeida Cardoso – Rio”. Levo para casa. Falo à Purezinha. Sem fé nenhuma, dou automaticamente os carocinhos ao Edgard, mais do que mandavam as instruções. Cinco em vez de três. Depois, mais cinco. De noite, mais cinco. No dia seguinte, o milagre: todos os sintomas da rinite haviam desaparecido!… Mas sobreviera uma novidade: purgação nos ouvidos. Cheio de confiança, corro à casa da prima, atrás do livro de capa verde. Procuro “Ouvidos” e leio esta maravilha. “Ás vezes sobrevém purgação no ouvido por abuso de Mercurius, e nesse caso o remédio é Sulphur”. Vou voando à farmácia. Compro Sulphur. Mais 500 réis. Dou Sulphur ao Edgard e pronto – sarou do ouvido! Sarou da rinite, sarou de tudo! Preço da cura: 1.000 réis. Pelo alopatia, em troca de não cura: várias consultas médicas, viagem a São Paulo, drogas insuflantes e aparelho insuflador – e a desesperança.
Que fazer depois disso, Rangel, senão mandar vir um livro de capa verde e uma botica com todas as homeopatias do Almeida Cardoso? Cem mil réis custou-me, e desde então curo tudo. Curo tudo em casa e no pessoal da fazenda. Fiquei com fama de mágico. Vem gente dos sítios vizinhos. “Ouvi dizer que o senhor é um bom doutor que cura” – e curo mesmo.
Chega a vir até do município vizinho atrás dos “carocinhos mágicos”…

Lobato



sexta-feira, 6 de outubro de 2017

ABREU E LIMA


ESTA VIDA DARIA UM ROMANCE, UM FILME...






Primeira cena, ou capítulo
Salvador, Bahia, 1817: o jovem capitão de artilharia José Inácio de Abreu e Lima e seu irmão Luís são obrigados a assistir ao fuzilamento do pai, o advogado e ex-sacerdote pernambucano conhecido como "Padre Roma", um dos líderes da revolução que tentara, sem sucesso, libertar o Brasil do domínio português, com a transformação do novo país numa República. A rebelião foi sufocada a um custo de 1.500 mortos e ceca de 800 degredados, em Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará.

- Outubro de 1817: José Inácio e Luís escapam da prisão e embarcaram clandestinamente para Filadélfia, nos Estados Unidos, cidade onde se abrigavam muitos combatentes latinoamericanos pela libertação dos colônias

- 1818: aos 23 anos, Abreu e Lima volta para a América do Sul em busca da realização de seus ideais republicanos. Desembarca em Angustura, cidade da selva venezuelana às margens do rio Orinoco onde Simon Bolívar tinha o seu quartel-general. Tornou-se colaborador do jornal Correo del Orinoco, dos rebeldes bolivarianos. Polemizava com Hipólito José da Costa, que em Londres editava o Correio Braziliense e defendia uma monarquia constitucional para o Brasil e atacava a rebelião nordestina

- Engajado no Estado-Maior do exército de 2 mil homens formado por Bolívar, atravessou a América do Sul, em marchas duríssimas por selvas e montanhas. Lutou na libertação de Nova Granada (Panamá e Colômbia ), do Equador, da Venezuela e do antigo Peru, atuais Peru e Bolívia,  dos espanhóis

- Fez fama de valente, ganhou várias condecorações, foi promovido a general. De temperamento exaltado, desiludido com as disputas políticas que impediam a  concretização do sonho bolivariano da Grã Colômbia, acabou preso por seis meses por ferir um opositor.

1826 - Abreu e Lima dá baixa do exército, e dois anos depois volta a se unir a Bolívar.  Fica junto do líder até a sua morte, por tuberculose em estágio avançado, na cidade colombiana de Santa Marta.

1831 - Expulso da Colômbia pelos novos mandatários do país, Abreu e Lima vai para a Europa e lá conhece D.Pedro I.  Se convence que a monarquia constitucional é o melhor regime para evitar o esfacelamento do Brasil. Vai morar no Rio de Janeiro. No seu jornal, O Raio de Júpiter, passa a defender as mesmas ideias de Hipólito José da Costa que combatera anos antes.

1843 - Desencantado com a corte e cansado das polêmicas em que se  envolveu, volta para Recife, onde funda o jornal A Barca de São Pedro.

1848 - Envolvido na revolta Praieira, é preso por dois anos na ilha de Fernando de Noronha.
Anistiado, continuou polemizando. Por defender a liberdade religiosa, foi atacado pelo clero pernambucano

1869 - Abreu e Lima morre, no dia 8 de março. O bispo de Olinda proibiu que seu corpo fosse enterrado num  campo santo brasileiro. O enterro foi feito no Cemitério dos Ingleses do Recife, debaixo de uma cruz celta.
Mas o general não perdeu sua última batalha:  a repercussão do caso foi tão grande que dois anos depois a administração dos cemitérios públicos foi retirada da igreja.


Dados retirados de um artigo do jornalista e escritor Paulo Santos de Oliveira na Revista da Biblioteca Nacional