Aves marinhas percorrem a praia do Campeche (Ilha de Santa Catarina) depois de uma tempestade
(Clique sobre a foto para ampliá-la)
terça-feira, 29 de maio de 2012
sábado, 19 de maio de 2012
quinta-feira, 10 de maio de 2012
DIA DAS MÃES
O AMOR MATERNO QUESTIONADO

As mães merecem a enxurrada de homenagens e presentes que recebem no seu dia. É uma felicidade ter uma mãe amorosa, carinhosa, dedicada e compreensiva, e num dia do ano, o Dia das Mães, demonstrar gratidão a ela.
Mas nesse dia há uma legião de esquecidos: os filhos que não têm - ou não tiveram - esta felicidade. São as vítimas de mães egocêntricas, neuróticas, castradoras, psicóticas, cruéis. Nem sempre "mãe é mãe", como se a maternidade as eximisse de seus erros.
O assunto foi pesquisado pela escritora francesa Elizabeth Badinter, que no livro O Mito do Amor Materno, lançado em 1980, questiona se o amor materno é um instinto, uma tendência feminina, ou um comportamento social, variável de acordo com a época e os costumes. A conclusão: o instinto materno é um mito. Não é uma condição inerente à mulher.

Rose Ferreira conseguiu sobreviver à sua mãe. Teve uma infância e adolescência marcadas por agressões físicas, verbais e morais, mas com muita determinação, dedicação aos estudos
e fé em Deus, enfrentou todos os obstáculos até concluir o curso de Comunicação Social da USP e a pós-graduação em Administração Mercadológica pela ESPM.
Mesmo independente economicamente e casada com um homem que a compreendeu e apoiou, não se sentiu em condições de ter filhos.
No livro "Nem todas as mães amam os filhos", Rose faz um relato sofrido e dramático sobre uma vida marcada pelo desamor.
O assunto merece uma reflexão, raramente feita, sobre o delicado tema das vítimas de suas próprias mães.
segunda-feira, 16 de abril de 2012
NUBECITAS
Sempre gostei de olhar para o céu em dias de sol para apreciar a passagem das nuvens e imaginar as formas que têm - animais, pássaros e o que mais surgir na minha imaginação.
Criança, deitava no meio da plantação de mandioca ou de milho que havia no terreno da casa dos meus pais, em Três Passos, para olhar o céu e saborear o silêncio das tardes. Plantações, numa casa? Não era uma casa qualquer: no quintal, enorme, tinha, além de hortaliças, legumes e verduras, uma parreira onde em dezembro, depois da chuva, apanhávamos cachos de uvas fresquinhas, cheirosas. Cada estação oferecia as suas frutas: laranjas e bergamotas no inverno, maçãs no verão, morangos na primavera.
sexta-feira, 6 de abril de 2012
A MACONHA QUE SURGIU NO MAR
Este mar de águas límpidas e azuis da foto acima não é do Nordeste nem do Caribe!
Acredite: durante dois a três meses por ano, a costa do
Rio Grande do Sul - uma faixa de areia de 700 quilômetros sem baías nem penínsulas - fica livre das águas geladas e turvas vindas da Antártida.
A responsável por este milagre, que geralmente acontece entre fevereiro e abril, é a Corrente do Brasil, uma espécie de rio salgado de água morna que atravessa o Atlântico e desce pelo litoral brasileiro do Nordeste até a fronteira com o Uruguai, quando toma novamente a direção da África.
Do outono até o início do verão, a água da costa brasileira, até a altura de Cabo Frio, no Rio de Janeiro, é gelada por causa da Corrente das Malvinas.
O mapa abaixo mostra a movimentação das correntes marítimas pelos oceanos.
Para ampliar o mapa, clique duas vezes sobre ele
Foi por causa da Corrente do Brasil que, no verão de 1988, milhares de latas de maconha de altíssima qualidade, com uma concentração de THC sete vezes maior do que a brasileira e a paraguaia, prensada com mel e glicose, chegaram às praias brasileiras abaixo do paralelo 20. Era a carga do navio Solana Star, de bandeira panamenha, procedente de Cingapura. Seu destino era um porto dos Estados Unidos, mas em setembro de 1987, quando passava pelo litoral fluminense, teve problemas mecânicos e precisou de reparos. Temendo uma abordagem e prisão pelas autoridades brasileiras, que já teriam sido alertadas pela polícia norte-americana, seus tripulantes jogaram as 20 mil latas ao mar, a 100 milhas da costa, levaram o navio até o porto do Rio durante a noite e o abandonaram. Só o cozinheiro, o norte-americano Stephen Skelton, estava a bordo quando policiais federais invadiram a embarcação. Ele foi preso e condenado por tráfico.
Hermeticamente fechadas para conservar a qualidade do "produto", as latas de biscoitos com um quilo e meio de maconha começaram a chegar em janeiro às praias do Espírito Santo, do Rio e de São Paulo. Nas semanas seguintes, trazidas pela corrente marítima, chegaram ao litoral do Paraná, de Santa Catarina e, por último, do Rio Grande do Sul. Desde aquele verão, a expressão "da lata" foi incorporada à gíria brasileira com o sentido de algo muito bom, especial, de primeira.
O Solana Star foi apreendido e leiloado. Depois de uma reforma, transformado em pesqueiro, recebeu o nome de Tunamar, mas seu destino foi trágico: naufragou ao largo de Cabo Frio em sua viagem inaugural, de Niterói a Santa Catarina, na noite tormentosa de 11 de outubro de 1994. Dois tripulantes morreram e nove, que dormiam, ficaram desaparecidos.
Um triste fim para o navio que proporcionou à moçada da época um verão inesquecível: o verão da lata.
terça-feira, 6 de março de 2012
OS SHOWS DA MINHA VIDA
Show do tenor italiano Andrea Bocelli, noAllianz Parque, de São Paulo, no feriado de 12 de outubro de 2016. Meio ano antes os ingressos para o show já estavam todos vendidos. Vieram fãs de todo país, a maioria com mais de 50 anos.
Como em todos os eventos em estádios, neste também teve muita gente chegando atrasada, cadeiras tiveram que ser arranjadas às pressas para acomodar os que ficaram sem lugar.
Como num jogo de futebol, a ansiedade pelo início do show era visível em todos os rostos.
Três telões colocados sobre o palco permitiam uma visão do palco aos que estavam no meio do campo e nas arquibancadas.
Foi uma celebração à boa música e ao talento de um homem que, com sua voz, encanta a milhões de pessoas em todo o mundo.
Quando Anitta foi anunciada pelo maestro, houve algumas vaias.
Mas ela cantou bem e foi aplaudida no final.
Uma noite inesquecível.
Um dos shows da minha vida.
******
Confesso que nunca havia prestado muita atenção na obra do compositor, cantor e instrumentista, autor, entre outros sucessos, de Lindo Balão Azul ( do programa Balão Mágico, da Rede Globo) e Aprendendo a Jogar (imortalizado por Ellis Regina). Alí, sentado na praça, me dei conta de que só por duas músicas - Planeta Água e Amanhã -, Guilherme Arantes merece estar entre os melhores músicos brasileiros. Fiquei fã.
http://www.youtube.com/watch?v=oPwnAq2xMUg
********
Viajando na memória: aos 14 anos, recém chegado a Porto Alegre, sou um dos 4.500 espectadores do espetáculo de inauguração do Auditório Araújo Vianna, no parque da Redenção, no dia 12 de março de 1964. Extasiado, curti a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre executar a Sinfonia 1812, de Tchaikowski, com direito a salvas de canhão. Foi o meu primeiro megashow.

Mas se nos verões o auditório ao ar livre fervia, com shows a preços baixos, nas noites do outono à primavera a moçada de então lotava o Salão de Atos da Reitoria da Ufrgs, ali pertinho, e o Teatro da Ospa, na esquina da avenida Independência com a rua João Telles. Os dois eram acessíveis: quem morava no Centro, na Cidade Baixa e no Bom Fim podia ir a pé - naquela época não havia assaltos - e depois do espetáculo jantar ou beber com os amigos num dos tantos bares e restaurantes da área. No Salão de Atos vivi a rara emoção de assistir Athaualpa Yupanki, sozinho com seu violão. Anos depois, já com o salão reformado - por alguma razão, depois da reforma ele perdeu o seu encanto - fui transportado de volta para as montanhas da pré-cordilheira dos Andes, no norte argentino, por onde havia andado na minha juventude, pelo genial compositor e intérprete Ariel Ramirez e sua Misa Criolla. Ramirez trouxe, além dos músicos, um coral de crianças. Não consegui conter as lágrimas, do primeiro ao último acorde.
O teatro da OSPA, um prédio inacabado que acabou demolido para dar lugar a um moderníssimo edifício de escritórios, era ponto obrigatório nos anos 60-70-80. Começando pelos concertos da orquestra, às terças-feiras. Tinha de tudo: peças de teatro, como Hair, e a maioria dos cantores e bandas que se apresentavam na cidade, como Sivuca, O mago albino do acordeão, em noite inspiradíssima, fez a platéia entrar no clima de forró e, em delírio, dançar atrás dele pelos corredores do teatro.
Foi lá que tive o privilégio de ouvir Leonardo Ribeiro, cantor, compositor e instrumentista gaúcho que morava na Europa mas passava uma temporada em Porto Alegre. Leonardo juntou músicos de primeiríssima como Geraldo Flach, o percussionista Fernando do Ó, Jorginho do Trumpete, Perico Arteche e Sérgio Karam e gravou com eles um disco excelente.
A foto da capa é de Assis Hoffmann e o texto de apresentação do CD
de Juarez Fonseca.
******.
Uma das poucas homenagens de Porto Alegre à maior cantora brasileira, o Porto de Ellis era um misto de bar e casa de espetáculos, localizado entre a churrascaria Barranco e o bar Caverna do Ratão, na avenida Protásio Alves, em Petrópolis. Foi lá, numa noite gélida de julho, que Luiz Melodia, um dos melhores cantores brasileiros, mostrou seu enorme talento. Mas não foi fácil . Para suportar o frio, entornava doses e doses de algo que parecia ser conhaque. Apesar disso - e quem sabe por isso - cantou maravilhosamente bem.
******

Fazia muito calor naquela noite de dezembro no Rio. Alceu Valença, pernambucano de Olinda, esbanjava energia, alegria e talento, saltitando ao ritmo de forrós, frevos e baiões sobre o palco montado na ilha dos Caiçaras, na lagoa Rodrigo de Freitas, sede do sofisticado clube dos Caiçaras.`Para encerrar um show de tantas luzes e brilho, fogos de artifício iluminaram o céu e coloriram as águas da lagoa.
**************
Montserrat Caballé, soprano catalã, cantora lírica consagrada na Europa e nos Estados Unidos, tornou-se uma pop star conhecida em todo mundo depois de gravar o disco Barcelona com Freddie Mercury, em 1988, e com ele fazer várias turnês, levando o público ao delírio com músicas como How Can I Go On: http://www.youtube.com/watch?v=qbUo0wdEd4k.
Na noite de 28 de março de 1998, um sábado, ela se apresentou com a filha Monsita, também cantora, na praia do Laranjal, em Pelotas, acompanhada pela Orquestra Sinfônica de Porto Alegre. Três dias depois cantou no Teatro Municipal de São Paulo. Foram suas únicas apresentações no Brasil. Veio gente de todo o Rio Grande do Sul.
Senhoras vestidas com trajes de noite, sapatos de salto alto, encararam a areia grossa da beira da lagoa dos Patos para chegar até os seus lugares na arquibancada. Valeu a pena, com certeza. Foi um show magnífico, à altura da grande díva.
**********
Impossível haver um lugar mais adequado para Mercedes Sosa soltar sua voz, acompanhada pelo inseparável bombo leguero, do que o Memorial da América Latina, conjunto arquitetônico projetado por Oscar Niemeyer no bairro Barra Funda, em São Paulo, para realizar o sonho de Darcy Ribeiro de um centro cultural com o objetivo de aproximar os povos latino-americanos.
La Negra estava no auge de sua carreira, e levou ao delírio o público que lotou o auditório. Realizado no dia 14 de julho de 1989, quatro meses depois da inauguração do Memorial, o espetáculo foi um dos mais importantes de seus 23 anos de atividades.
************
Até aqueles que não são fãs de Roberto Carlos deveriam ir a um de seus shows. Não é à toa que ele é chamado de Rei. Canta maravilhosamente bem e é perfeccionista quanto à`qualidade do som, os arranjos e todos os detalhes da apresentação. Os músicos que o acompanham - alguns há décadas - são excelentes. Não há como não sair encantado. Melhor ainda se o show for no Rio de Janeiro, e no Canecão, com direito a uma mesa com bebidas e canapés.
O Canecão era uma cervejaria quando foi inaugurado, em 1967, no bairro Botafogo. Para animar os seus frequentadores, que nos fins de semana chegavam a mais de quatro mil, foi contratada uma bandinha. Em pouco tempo o palco passou a ser ocupado pelos mais importantes intérpretes de música popular brasileira, de Maysa a Marisa Monte, de Chico Buarque a Nei Matogrosso. Ronaldo Bôscoli criou uma frase que o marcou definitivamente: "Nesta casa se escreve a história da Música Popular Brasileira."
Foi fechado em maio de 2010, depois de 40 anos de disputa judicial entre seus donos e a Universidade Federal do Rio de Janeiro, proprietária do terreno. A foto acima é de 2011, já sem a logomarca na fachada.
Para ver - e principalmente ouvir - outro rei, fiz uma gauchada: embarquei para o Rio num sábado à tarde, curti o show à noite e no domingo estava de volta a Porto Alegre.
B.B. King, o Rei do Blues, se apresentou em 2006 debaixo de um enorme toldo armado na Marina da Glória.
Em vez de poltronas ou arquibancadas, mesas e cadeiras, todo mundo sentado, bebendo chôpe em copos de plástico. Foi um delírio. Aquela era a Farewell Tour, a última turnê, mas o bluesman gostou tanto do clima que voltou ao Rio em 2010, já com 84 anos de idade, para outra apresentação.
B.B. King, o Rei do Blues, se apresentou em 2006 debaixo de um enorme toldo armado na Marina da Glória.
Em vez de poltronas ou arquibancadas, mesas e cadeiras, todo mundo sentado, bebendo chôpe em copos de plástico. Foi um delírio. Aquela era a Farewell Tour, a última turnê, mas o bluesman gostou tanto do clima que voltou ao Rio em 2010, já com 84 anos de idade, para outra apresentação.
Nas últimas três décadas, Porto Alegre foi incluída no roteiro das turnês dos maiores ídolos da música popular de todos os tempos. Eric Clapton foi um deles. Estive a poucos metros do deus da guitarra, em 2001, no Estádio Olímpico do Grêmio, em Porto Alegre. De pé, no gramado, jovens de várias gerações dançaram e cantaram, encantados. Saí do estádio flutuando.
Voltei ao Olímpico um ano depois para conferir The Wall, com Roger Waters. Mas desta vez num camarote, a convite de uma cervejaria, com direito a tapete vermelho, bebidas e bufê de salgados. Fã do Pink Floyd desde os seus primeiros álbuns, lá nos anos 70, apreciar uma apresentação apoteótica, com recursos tecnológicos nunca vistos, da banda liderada por Waters foi uma experiência fantástica.
Estes foram os shows da minha vida, até agora. Se pudesse, teria ido a Nashville para ver Neil Young em Heart of Gold, ao Carnegie Hall de Nova Iorque me emocionar com Frank Sinatra, a Londres viajar ao som do sitar de Ravi Shankar, a Buenos Aires vibrar com Fito Paes e/ou Charly Garcia.
Mas Zé Ramalho em Recife, Dominguinhos em João Pessoa, Nei Lisboa, Borghetinho ou a velha e boa OSPA em Porto Alegre já me fazem feliz.
"Quem gosta de música tem vida interior, e quem tem vida interior jamais padecerá de solidão".
Artur da Távola
OS SHOWS DA MINHA VIDA
Show do tenor italiano Andrea Bocelli, no Allianz Parque, de São Paulo, no feriado de 12 de outubro de 2016. Meio ano antes os ingressos para o show já estavam todos vendidos.
Vieram fãs de todo país, a maioria com mais de 50 anos.
Como em todos os eventos em estádios, neste também teve muita gente chegando atrasada, cadeiras tiveram que ser arranjadas às pressas para acomodar os que não localizavam os seus lugares.
Como num jogo de futebol, a ansiedade pelo início do show era visível em todos os rostos.
Três telões permitiam uma visão do palco aos que estavam no meio do campo e nas arquibancadas
Bocelli cantou alguns trechos de óperas famosas, algumas árias sacras e músicas de filmes clássicos. Ao fim de cada uma delas, aplausos e gritos.
Foi uma celebração à boa música e ao talento de um homem que, com sua voz, encanta a milhões de pessoas em todo o mundo
Quando Anitta foi anunciada pelo maestro, houve algumas vaias.
Mas ela cantou bem e foi aplaudida no final.
Uma noite inesquecível.
Um dos shows da minha vida.
******
Confesso que nunca havia prestado muita atenção na obra do compositor, cantor e instrumentista, autor, entre outros sucessos, de Lindo Balão Azul ( do programa Balão Mágico, da Rede Globo) e Aprendendo a Jogar (imortalizado por Ellis Regina). Alí, sentado na praça, me dei conta de que só por duas músicas - Planeta Água e Amanhã -, Guilherme Arantes merece estar entre os melhores músicos brasileiros. Fiquei fã.
http://www.youtube.com/watch?v=oPwnAq2xMUg
********
Viajando na memória: aos 14 anos, recém chegado a Porto Alegre, sou um dos 4.500 espectadores do espetáculo de inauguração do Auditório Araújo Vianna, no parque da Redenção, no dia 12 de março de 1964. Extasiado, curti a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre executar a Sinfonia 1812, de Tchaikowski, com direito a salvas de canhão. Foi o meu primeiro megashow.

Mas se nos verões o auditório ao ar livre fervia, com shows a preços baixos, nas noites do outono à primavera a moçada de então lotava o Salão de Atos da Reitoria da Ufrgs, ali pertinho, e o Teatro da Ospa, na esquina da avenida Independência com a rua João Telles. Os dois eram acessíveis: quem morava no Centro, na Cidade Baixa e no Bom Fim podia ir a pé - naquela época não havia assaltos - e depois do espetáculo jantar ou beber com os amigos num dos tantos bares e restaurantes da área. No Salão de Atos vivi a rara emoção de assistir Athaualpa Yupanki, sozinho com seu violão. Anos depois, já com o salão reformado - por alguma razão, depois da reforma ele perdeu o seu encanto - fui transportado de volta para as montanhas da pré-cordilheira dos Andes, no norte argentino, por onde havia andado na minha juventude, pelo genial compositor e intérprete Ariel Ramirez e sua Misa Criolla. Ramirez trouxe, além dos músicos, um coral de crianças. Não consegui conter as lágrimas, do primeiro ao último acorde.
Bem diferente foi o clima no show de Sivuca, no teatro da Ospa. O mago albino do acordeão, entusiasmadissimo, fez a platéia entrar no clima de forró e, em delírio, dançar atrás dele pelos corredores do teatro.
Uma das poucas homenagens de Porto Alegre à maior cantora brasileira, o Porto de Ellis era um misto de bar e casa de espetáculos, localizado entre a churrascaria Barranco e o bar Caverna do Ratão, na avenida Protásio Alves, em Petrópolis. Foi lá, numa noite gélida de julho, que Luiz Melodia, um dos melhores cantores brasileiros, mostrou seu enorme talento. Mas não foi fácil . Para suportar o frio, entornava doses e doses de algo que parecia ser conhaque. Apesar disso - e quem sabe por isso - cantou maravilhosamente bem.
******

Fazia muito calor naquela noite de dezembro no Rio. Alceu Valença, pernambucano de Olinda, esbanjava energia, alegria e talento, saltitando ao ritmo de forrós, frevos e baiões sobre o palco montado na ilha dos Caiçaras, na lagoa Rodrigo de Freitas, sede do sofisticado clube dos Caiçaras.`Para encerrar um show de tantas luzes e brilho, fogos de artifício iluminaram o céu e coloriram as águas da lagoa.
**************
Montserrat Caballé, soprano catalã, cantora lírica consagrada na Europa e nos Estados Unidos, tornou-se uma pop star conhecida em todo mundo depois de gravar o disco Barcelona com Freddie Mercury, em 1988, e com ele fazer várias turnês, levando o público ao delírio com músicas como How Can I Go On: http://www.youtube.com/watch?v=qbUo0wdEd4k.
Na noite de 28 de março de 1998, um sábado, ela se apresentou com a filha Monsita, também cantora, na praia do Laranjal, em Pelotas, acompanhada pela Orquestra Sinfônica de Porto Alegre. Três dias depois cantou no Teatro Municipal de São Paulo. Foram suas únicas apresentações no Brasil. Veio gente de todo o Rio Grande do Sul.
Senhoras vestidas com trajes de noite, sapatos de salto alto, encararam a areia grossa da beira da lagoa dos Patos para chegar até os seus lugares na arquibancada. Valeu a pena, com certeza. Foi um show magnífico, à altura da grande díva.
**********
Impossível haver um lugar mais adequado para Mercedes Sosa soltar sua voz, acompanhada pelo inseparável bombo leguero, do que o Memorial da América Latina, conjunto arquitetônico projetado por Oscar Niemeyer no bairro Barra Funda, em São Paulo, para realizar o sonho de Darcy Ribeiro de um centro cultural com o objetivo de aproximar os povos latino-americanos.
La Negra estava no auge de sua carreira, e levou ao delírio o público que lotou o auditório. Realizado no dia 14 de julho de 1989, quatro meses depois da inauguração do Memorial, o espetáculo foi um dos mais importantes de seus 23 anos de atividades.
************
Até aqueles que não são fãs de Roberto Carlos deveriam ir a um de seus shows. Não é à toa que ele é chamado de Rei. Canta maravilhosamente bem e é perfeccionista quanto à`qualidade do som, os arranjos e todos os detalhes da apresentação. Os músicos que o acompanham - alguns há décadas - são excelentes. Não há como não sair encantado. Melhor ainda se o show for no Rio de Janeiro, e no Canecão, com direito a uma mesa com bebidas e canapés.
O Canecão era uma cervejaria quando foi inaugurado, em 1967, no bairro Botafogo. Para animar os seus frequentadores, que nos fins de semana chegavam a mais de quatro mil, foi contratada uma bandinha. Em pouco tempo o palco passou a ser ocupado pelos mais importantes intérpretes de música popular brasileira, de Maysa a Marisa Monte, de Chico Buarque a Nei Matogrosso. Ronaldo Bôscoli criou uma frase que o marcou definitivamente: "Nesta casa se escreve a história da Música Popular Brasileira."
Foi fechado em maio de 2010, depois de 40 anos de disputa judicial entre seus donos e a Universidade Federal do Rio de Janeiro, proprietária do terreno. A foto acima é de 2011, já sem a logomarca na fachada.
Para ver - e principalmente ouvir - outro rei, fiz uma gauchada: embarquei para o Rio num sábado à tarde, curti o show à noite e no domingo estava de volta a Porto Alegre.
B.B. King, o Rei do Blues, se apresentou em 2006 debaixo de um enorme toldo armado na Marina da Glória.
Em vez de poltronas ou arquibancadas, mesas e cadeiras, todo mundo sentado, bebendo chôpe em copos de plástico. Foi um delírio. Aquela era a Farewell Tour, a última turnê, mas o bluesman gostou tanto do clima que voltou ao Rio em 2010, já com 84 anos de idade, para outra apresentação.
B.B. King, o Rei do Blues, se apresentou em 2006 debaixo de um enorme toldo armado na Marina da Glória.
Em vez de poltronas ou arquibancadas, mesas e cadeiras, todo mundo sentado, bebendo chôpe em copos de plástico. Foi um delírio. Aquela era a Farewell Tour, a última turnê, mas o bluesman gostou tanto do clima que voltou ao Rio em 2010, já com 84 anos de idade, para outra apresentação.
Nas últimas três décadas, Porto Alegre foi incluída no roteiro das turnês dos maiores ídolos da música popular de todos os tempos. Eric Clapton foi um deles. Estive a poucos metros do deus da guitarra, em 2001, no Estádio Olímpico do Grêmio, em Porto Alegre. De pé, no gramado, jovens de várias gerações dançaram e cantaram, encantados. Saí do estádio flutuando.
Voltei ao Olímpico um ano depois para conferir The Wall, com Roger Waters. Mas desta vez num camarote, a convite de uma cervejaria, com direito a tapete vermelho, bebidas e bufê de salgados. Fã do Pink Floyd desde os seus primeiros álbuns, lá nos anos 70, apreciar uma apresentação apoteótica, com recursos tecnológicos nunca vistos, da banda liderada por Waters foi uma experiência fantástica.
Estes foram os shows da minha vida, até agora. Se pudesse, teria ido a Nashville para ver Neil Young em Heart of Gold, ao Carnegie Hall de Nova Iorque me emocionar com Frank Sinatra, a Londres viajar ao som do sitar de Ravi Shankar, a Buenos Aires vibrar com Fito Paes e/ou Charly Garcia.
Mas Zé Ramalho em Recife, Dominguinhos em João Pessoa, Nei Lisboa, Borghetinho ou a velha e boa OSPA em Porto Alegre já me fazem feliz.
"Quem gosta de música tem vida interior, e quem tem vida interior jamais padecerá de solidão".
Artur da Távola
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