segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

EM BUSCA DO PARAÍSO

 A minha geração queria conhecer o paraíso - sem precisar morrer, claro. E lá íamos nós, de carona, de busão ou com os carros dos poucos amigos e colegas que desfrutavam deste privilégio, mesmo sendo fusquinhas ou Gordinis que muitas vezes nos deixavam na estrada.

Íamos para Garopaba, então um vilarejo de pescadores com um pequeno hotel o do Lobo, e às vezes dormíamos nos barracos dos pescadores, na praia. Mais ao norte do litoral de SC havia outros paraísos, como Bombinhas. Os desbravadores passavam a dica. "Tens que conhecer tal lugar, é o paraíso".

Já depois dos 30, nossos voos eram mais altos: Búzios, no Rio, Arembepe, Porto Seguro, na Bahia, Praia da Pipa, no RN, Jericoacoara e Canoa Quebrada, no Ceará. 

Todos estes lugares que nos fascinaram foram vítimas do turismo e dos empreendimentos imobiliários. Descaracterizados, perderam o encanto. Os jovens dos anos 70/80 voltam lá agora e encontram lugares urbanizados, com pousadas e hotéis chiques ou bregas, a força da grana destruindo a natureza  e o encanto que um dia tiveram. 

Caraíva está tomado de pousadas. No Arraial d'Ajuda e Trancoso visitantes que chegam de carro são cercados e extorquidos por "cuidadores". A mítica Arembepe tem uma "aldeia hippie" para os turistas verem aqueles bichos raros que descobriram a praia  do século passado.

Já não existem mais aqueles paraísos. 



Porto Seguro, 1984



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