quarta-feira, 25 de setembro de 2019

BOM HUMOR, DE MANHÃ?



Há quem garanta que nenhum ser humano normal consegue pensar antes das dez da manhã, muito menos ter vontade de achar graça em alguma coisa.
Por um acaso do destino - ou por falta de outra opção profissional-, sempre tive que madrugar. Na rádio Continental (a dos anos 70), na rádio Gaúcha, na RBSTV, na Folha da
Tarde, no Correio do Povo, meu batente começava cedo. E os neurônios tinham que estar conectados.
Na Zero Hora, durante anos, coordenei a "reunião das nove", na qual organizávamos a produção do dia. E o maior desafio não era a pobreza da pauta das editorias, mas as noites mal dormidas dos seus representantes. Jornalista que se preze gosta de ler, conversar e beber até a madrugada.
O Ivo Stigger é uma rara exceção. Lá nos tempos do Correio do Povo. em 1979, eu chegava cedinho para fazer a pauta. Quando o Ivo chegava, o silêncio da redação era quebrado pelas gargalhadas. Ele e o Gandolfo, da coluna de fúnebres, sempre tinham histórias hilariantes para contar. E levantar o astral dos colegas que chegavam.
Nos anos 80 trabalhamos juntos na editoria de Geral de Zero Hora, onde ele foi repórter e editor e eu pauteiro - aquele cara que ganha para bolar bons assuntos para os repórteres transformar em reportagens.
Num dos churrascos de fim de ano da editoria capitaneada pela Núbia Silveira, depois dos comes e bebes, o Ivo Stigger pediu a palavra. Tirou do bolso um maço de laudas (aquelas folhas de papel onde, antes da era digital, se redigiam as reportagens) e, no tom mais sério que conseguiu, passou a descrever as agruras de um dia de repórter.
Chamado pelo chefe de reportagem (na época eram dois, o Adilson Porto Alegre e o Hélvio Schneider), o infeliz recebia as pautas do dia: entrevistar o secretário da Saúde (que está te esperando, sai correndo), depois fechar a matéria com o diretor do hospital. "E já que vais no hospital pergunta como estão as obras de restauração (dá outra matéria) e no caminho confere como está aquele buraco da João Pessoa aberto há meio ano. Ah, e como estamos no início da primavera pede uma boa foto para o retratista e faz uma materinha ambiental que pode render capa."
E quando o repórter volta, esbaforido, louco por um lanche, a ordem: "senta aí e escreve as matérias, que não podemos atrasar o baixamento."
Gargalhadas gerais, inclusive das vítimas da gozação.




Na foto, Ivo Stigger, há dois anos dedicado apenas aos prazeres da vida, como jogar tênis e jogar conversa fora com amigos, como Ayres Cerutti à esquerda)  e Antônio Goulart.
Cada um com boas histórias para contar.

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