sexta-feira, 2 de outubro de 2015

MÚSICOS DA NOITE




Todo músico quer ser ouvido, ou pelo menos ser notado. Para os músicos da noite, que tocam e cantam em bares e restaurantes, esta simples constatação chega a ser uma obsessão: eles querem ser curtidos, aplaudidos, mas a grande maioria - ou a totalidade - dos frequentadores está lá para comer, beber e conversar. Estão mais interessados no que dizem a namorada, a esposa, os amigos, do que na música, por melhor que seja o intérprete.
Raramente alguém aplaude o cantor, mesmo que esteja curtindo o som. A reação dele é quase sempre a mesma: aumentar o volume do amplificador. "Um cantinho, um violããããão...", "Não posso ficaaaar nem mais um minuto com você...", "Às vezes no silêncio da noite, eu fico imaginando nóis dois...", "Yesterdaaaay..." e a única reação do público é falar mais alto, mais alto. Num ambiente lotado, vira uma gritaria.
Mesmo tendo sobrevivido oito meses como músico de rua, em 1972, em cidades perdidas nos confins da América do Sul, são raros os músicos da noite que eu suporto. Eles não se conformam em ser  atores secundários, mesmo que estejam no palco. Não se dão conta de que o  papel deles é tornar o ambiente mais agradável, com música de qualidade a um volume que não atrapalhe as conversas entre os amigos, o clima entre os casais. 
Na ânsia de se impor, cantam aos berros em espaços exíguos. Um saco.



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