Aquele seria mais um show com caixas de som potentíssimas do qual eu sairia com os ouvidos zumbindo por algum tempo. Mas não foi. Aquele zumbido, misturado com sons semelhantes ao de uma floresta no amanhecer, nunca mais saiu da minha cabeça.
Desde então tenho que aumentar o som do rádio do carro e da tevê, e pedir para repetir uma pergunta virou um cacoete, irritante para mim e para quem está comigo.
Nas reuniões em que mais de uma pessoa fala ao mesmo tempo ou se há mais de uma fonte sonora no ambiente tudo se embaralha no caminho até o tímpano. Audiometrias confirmaram que o meu aparelho auditivo estava definitivamente danificado. Sim, porque a surdez é um mal sem cura. Os milhões de sensores que nos permitem saborear as nuances de uma sinfonia ou o ruído da chuva caindo na relva não mais se recuperam depois de agredidos.
O excesso de ruído, especialmente gerados por amplificadores de som, é a principal causa da perda de audição em pessoas de até 35 anos de idade. Além dos shows de música e das casas noturnas, onde a potência dos equipamentos chega a 100 decibéis, os fones de ouvido usados de smartphones e outros aparelhos são os maiores agressores dos tímpanos.
A Organização Mundial da Saúde recomenda que os usuários de fones não usem mais de que 60 por cento da sua capacidade, e adverte que o limite para a exposição a mais de 80 decibéis não passe de 25 minutos por dia.
Alarmada com os danos causados pelo uso cada vez mais disseminado de aparelhos de alta potência e dos fones de ouvido - pelo menos 360 milhões de pessoas sofrem algum dano auditivo no mundo -, a OMS recomenda que os governos imponham medidas rígidas para o controle do som em locais públicos e que os donos de bares e boates baixem o volume da música.
No Brasil, há um decreto federal de 2006 que obriga os fabricantes de aparelhos sonoros a colocar um texto de advertência, ostensivo e de fácil compreensão, sobre os danos no sistema auditivo causado por potência superior a 85 decibéis. Aparentemente a lei é ignorada.
As leis estaduais e municipais que regulam a poluição sonora e o volume da música em discotecas e shows também raramente são cumpridas, e nos carros os aparelhos de som são cada vez mais potentes. O baticum-bum-bum e o tecno/brega sertanejo em volumes absurdos massacram os ouvidos dos tripulantes e de quem está por perto. A falta de educação entre os apreciadores deste tipo de musica também parece ser um mal incurável.
UMA LEI IGNORADA:
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1o O fabricante ou o importador de equipamento eletroeletrônico de geração e propagação de ondas sonoras fará inserir texto de advertência, ostensivo e de fácil compreensão, de que constem informações referentes à eventualidade de ocorrerem danos no sistema auditivo exposto a potência superior a 85 (oitenta e cinco) decibéis.
Parágrafo único. A referida advertência deverá constar nas peças publicitárias, no invólucro do produto, no manual do usuário e, quando as dimensões o permitirem, no equipamento.
Art. 2o O descumprimento das disposições desta Lei e de seu regulamento acarretará ao infrator as sanções e as penalidades previstas na Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990.
Brasília, 26 de abril de 2006; 185o da Independência e 118o da República.
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