domingo, 16 de novembro de 2014

CARLOS WAGNER, UM "PURO-SANGUE"


Em Front Page (Primeira Página), filme de 1974 dirigido por Billy Wilder, o editor-chefe de um jornal da década de 30, representado pelo ator Walter Matthau, faz de tudo - ameaças, chantagem,  promessas de aumento salarial - para que seu principal repórter (Jack Lemmon) volte atrás da decisão de trocar  aquela vida dura e instável  por um bom emprego e finalmente casar com a namorada (Susan Sarandon). 
Assim como no filme, ter na equipe o maior número possível de repórteres que topam qualquer parada na busca da informação é o sonho de todo diretor de redação que tenha como meta superar os concorrentes, aumentar as vendas (de jornais e revistas), a audiência (nas tevês e meios digitais), o faturamento da empresa. 

A saída de Carlos Wagner de Zero Hora, aposentado depois de 31 anos de trabalho no jornal,  em outubro de 2014,  seria comparável à derrota de Matthau em Front Page (não, não vou contar o final do filme...) na sua luta para  manter o seu melhor repórter.  Wagner acumulou dezenas de prêmios regionais e nacionais de reportagem -  é um dos jornalistas mais premiados do Brasil -, tem carisma e fez incontáveis amigos entre seus colegas de profissão e pessoas que conheceu em milhares de entrevistas.
 Ele é dessa espécie conhecida nas redações como puro-sangue, tão  rara entre os jornalistas de todas as épocas, e mais ainda nestes tempos redução de custos devido à queda no faturamento das empresas. 
Este tipo de repórter tem um envolvimento emocional com a profissão, à qual dá prioridade total - que o digam os seus familiares.  Nunca cede à tentação de aceitar cargos de chefia ou empregos paralelos para ganhar mais e trabalhar menos.
 Diretores e editores autoritários e medíocres preferem os repórteres "bem mandados", que cumprem as pautas com resignação bovina.  Trazem matérias corretas, comportadas, que não darão problemas, para ele ou os chefes. Mas dificilmente terão emoção, polêmica, impacto. No  dia seguinte serão esquecidas. Uma boa reportagem, ao contrário, ficará na lembrança de quem as leu ou viu.
Para o repórter puro sangue, cada dia é um desafio - até naquele domingo frio e chuvoso quando nada de importante parece acontecer. Ele sempre briga por suas ideias, mesmo que a  viagem de dois dias por estradas barrentas do interior atrás de um assunto fantástico  não dê em nada.
Geralmente é cabeçudo, indisciplinado, detesta a rotina. Incomoda os editores, mas vale a pena - e como - valorizá-lo. A reportagem é - e sempre será - a alma do jornalismo. 



No seu blog Território Latino, Léo Gerchmann,  do jornal Zero Hora, publica uma divertida entrevista com Carlos Wagner, temperada com frases do repórter, no dia em que ele anunciou sua aposentadoria. Entre no link abaixo para ler:

http://wp.clicrbs.com.br/territoriolatino/2014/10/22/os-causos-e-as-frases-de-carlos-wagner-leia-vale-a-pena/





DO BAÚ DE MEMÓRIAS



A Folha da Manhã, do grupo Caldas Júnior, pilotada de 1974 a 1978 por Ruy Carlos Ostermann, foi uma dos mais belas experiências do jornalismo gaúcho, com uma equipe jovem, talentosa e profissionalizada.  A prioridade era o jornalismo investigativo, com a maioria das pautas criadas à noite, depois do fechamento do jornal, em bares e restaurantes de Porto Alegre como a churrascaria Itabira, na avenida Getúlio Vargas. 

Foi numa dessas conversas que surgiu a ideia de investigar para onde ia o ouro velho comprado nas ruas do centro da cidade. A reportagem comprovou que o ouro era derretido  e levado clandestinamente em lingotes para o Uruguai.  
Duas décadas mais tarde, Carlos Wagner, em suas idas à região de Passo Fundo, ficou sabendo que meninas da região eram trazidas a Porto Alegre para se prostituírem. Durante meses seguiu as pistas obtidas em dezenas de conversas em cabarés das duas cidades até chegar a "Buda", como era conhecido o líder da rede de tráfico. 
Os dois casos  tiveram grande repercussão. A polícia foi atrás e prendeu os envolvidos, que foram processados e condenados. 








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