SENTIMENTAL JOURNEY
Abril de 1971: aprovado numa seleção feita entre estudantes de jornalismo da UFRGS para um estágio de locutor, tive o privilégio de iniciar minha carreira na rádio da Universidade. Ganhava cerca de um salário mínimo, trabalhava quatro horas por dia, desempenhava as mesmas funções que os contratados mas não era submetido às pressões da competição e da cobrança das empresas privadas. Mais: convivia com profissionais de primeira como Celestino Valenzuela, Flávio Oliveira, Carlos Urbim, José Mitchell, Iara Bendatti, Clarice Aquistapace, Sérgio Stosch e Flávio Martins.
A experiência como locutor serviu para constatar que a vitrine não era o meu forte. O microfone me intimidava, mesmo sabendo que a emissora tinha poucos, embora qualificadíssimos, ouvintes. Me senti mais à vontade como repórter e redator do departamento de jornalismo.
O estágio de nove meses na Rádio da Universidade moldou o meu futuro profissional.
Abril de 2010: o táxi parou na frente do portão da Faculdade de Letras da Ufrgs, no Campus Central, ao lado da Reitoria. Desci, pedi licença ao guarda para entrar e iniciei uma caminhada sentimental: à minha esquerda, o prédio onde, até o primeiro semestre de 1970, funcionou o curso de Jornalismo. À direita, o bar do Antônio, também chamado de bar da Filô, de tantas memórias. Era lá que, nas décadas de 60 e 70, os líderes do movimento estudantil se reuniam para articular protestos, passeatas e ... festas. Mais adiante, já na rua Sarmento Leite, o belo prédio da Rádio da Universidade, construído no início do século 20 e agora restaurado.
Subir novamente a escada da rádio depois de quatro décadas me emocionou muito. Acompanhado da querida amiga Nara Barbosa, colega da faculdade e companheira de uma viagem pelos Andes, rememorei aquela época em que estudava de manhã, trabalhava numa repartição pública à tarde e das oito até a meia noite anunciava as músicas clássicas . Disputava, também, de emocionantes campeonatos de botão, numa mesa instalada no estúdio A.
Convidado por Sérgio Dillenburg, produtor e apresentador de um programa dedicado a ex-alunos da Universidade, dei uma entrevista de meia hora. Tive a oportunidade de expressar o meu reconhecimento aos mestres que impulsionaram a minha carreira com seu exemplo, orientação e carinho, falei sobre a minha trajetória profissional, as viagens que fiz, a minha vida pessoal e muita coisa mais.
Depois, descendo as escadas ao som de uma sinfonia de Haydn, cheguei à conclusão de que aquele foi, além do primeiro, o melhor emprego que tive nestes 35 anos de tantas redações.
* A foto do prédio foi baixada do site da Rádio da Ufrgs.
A foto na escada é de Nara Barbosa.
* A rádio pode ser ouvida em AM, 1080 mhz, ou pela internet através do site http://www.ufrgs.br/radio/
Um comentário:
Trabalhei poucos meses na Rádio da Universidade. Fazia o programa Movimento e um dia soube que entre qos ouvintes estava Érico Veríssimo. Eu estava la para substituir Carlos Urbin, que tinha pedido uma licença. Parabéns pelo relato. E entendo a emoção contida no texto.
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