Estive nos Emirados Árabes Unidos em abril de 1994, muito antes daquela confederação de pequenos e riquíssimos Estados se tornar um dos mais charmosos programas turísticos do mundo, com vôos diretos da Air Emirates de São Paulo a Dubai. Naquela época ainda não se falava em construir uma ilha artificial para lá erigir um mega-hotel de sete estrelas, único no mundo, nem uma pista de esqui com temperatura ambiente de 10 graus abaixo de zero, quando lá fora chega aos 40 positivos. Mas os sheiks que administram os Emirados já planejavam tornar o país uma meca do turismo de luxo e um poderoso entreposto comercial , usando os recursos da exportação de petróleo. A aposta tem se revelado correta: Abu Dabi, Dubai e os outros cinco emirados estão se tornando cada vez menos dependentes da sua única riqueza natural, já em vias de se extinguir.
Minha viagem foi a convite da Lufthansa, que anteviu nos emirados uma excelente oportunidade de multiplicar seu volume de transporte de passageiros e de cargas entre a Europa, o Oriente Médio, o norte da África e a Ásia. Isenta do pagamento de impostos e taxas (como qualquer empreendimento que se instale no território) e livre de qualquer controle aduaneiro, a companhia aérea alemã estabeleceu no emirado de Sharjah uma base para o transbordo de mercadorias destinadas aos países da região. Além dos benefícios fiscais, ganhou uma base operacional a poucas horas de vôo de importantes países da Ásia como o Paquistão e a Índia, do Sudeste asiático, do nordeste da África e do Oriente Médio..

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SETE POR UM
Abu Dabi, Dubai, Sharjah, Ras al Khaimah, Fujairah, Umm al Qaiwain e Ajman eram protetorados britânicos até 1971. Independentes, formaram uma federação em que cada emirado tem uma relativa autonomia, mas todas as decisões na área da economia e das relações exteriores são tomadas por um conselho formado pelos emires. Abu Dabi, com 87% do território e a maior parte das reservas de petróleo, tem direito à presidência do conselho e a ser a capital do país. Dubai, obcecada pelo futuro, cérebro da federação, é hoje a maior e a mais moderna cidade de toda a região. Os outros cinco emirados são pouco mais do que cidades-estados cercadas de deserto.
A maioria dos quase quatro milhões de habitantes do país são estrangeiros - indianos, afegãos, paquistaneses, palestinos, filipinos, iranianos e iraquianos formam um mosaico de feições, trajes e línguas. Todos são trabalhadores em busca de oportunidades e boa remuneração. O tempo de permanência depende do contrato de trabalho, que vale como um visto. Terminado o contrato, eles voltam para seus países, com Dirhams, a moeda local, suficientes para iniciar uma nova vida.
Regidos pelo islã, os emirados usam o Alcorão como código civil e penal. Bebidas alcoólicas são proibidas, ladrões têm as mãos amputadas, as mulheres devem cobrir o corpo com burkas. Contudo, cada membro da federação adota as leis de Maomé com maior ou menor rigidez. Dubai é o mais flexível, Sharjah o mais rígido. Hotéis internacionais podem servir bebidas alcoólicas, e seus bares são pontos de encontro dos estrangeiros ávidos por uma cervejinha gelada.
Este post é o relato de uma semana num país em que os restaurantes só oferecem bebidas sem álcool, as mulheres ocultam seus corpos e a criminalidade é insignificante. Um país que, graças ao petróleo, não tem imposto de renda. Um país em que tudo é novo, moderno e amplo, pois há espaço de sobra - é só avançar sobre as areias do deserto.
terça-feira, 29 de janeiro de 2008
As dunas de areia ficaram para trás. Tufos de vegetação sobrevivem num solo avermelhado
Para quem vive em cidades cercadas pelas areias do deserto da Arábia, onde toda a água é dessalinizada ou engarrafada, estas piscinas entre as rochas das montanhas Hajar, a 120 quilômetros de Dubai, são objeto de fascínio. Estão entre os lugares mais procurados pelos visitantes dos países da região e também pelos "locais".
PISCINAS NATURAIS NAS MONTANHAS
SAFÁRI NO DESERTO
Conhecer o deserto é um dos mais solicitados passeios de quem visita os Emirados Árabes. Em vez de camelos, embarcamos numa Toyota Hilux com tração nas quatro rodas e ar refrigerado. Mesmo assim, a excitação do nosso grupo de jornalistas e dos turistas franceses que seguiram em outro veículo era enorme.
O motorista parou num posto da estrada para tirar ar dos pneus. Explicou que isto era necessário para não atolar na areia. Poucosquilômetros depois saímos do asfalto e seguimos por uma trilha na areia. Um tropeiro de camelos nos chamou a atenção. Pedimos para parar e tiramos fotos - e esta foi a primeira de tantas outras paradas.
Saímos da trilha e , à beira do pânico, passamos a subir e descer dunas enormes. O motorista sorria e pisava fundo no acelerador. A emoção fazia parte do programa. Duas horas depois , já no fim datarde, chegamos a um lugar onde havia duas tendas. Um árabe de pele escura ajudou os motoristas das caminhonetes a descarregar as caixas de comida e bebidas - até latas da proibida cerveja. Ele colocou a carne, de carneiro e de frango, numa churrasqueira portátil e acendeu o carvão.
Os motoristas, também guias turísticos, perguntaram se alguém queria fazer um passeio de camelo, a dez dólares por pessoa. Todos topamos. Um beduíno, que só falava árabe, nos ajudou a subir nos camelos e os puxou pelas rédeas por 100 metros, o suficiente para sentir a sensação de andar lá em cima, equilibrados sobre a corcova.
Depois do jantar (carne assada, batata, tomate), noite escura, saí a caminhar pela areia. Em poucos minutos as vozes foram sumindo. Caminhei até o silêncio e a escuridão do deserto me envolverem completamente.
O motorista parou num posto da estrada para tirar ar dos pneus. Explicou que isto era necessário para não atolar na areia. Poucosquilômetros depois saímos do asfalto e seguimos por uma trilha na areia. Um tropeiro de camelos nos chamou a atenção. Pedimos para parar e tiramos fotos - e esta foi a primeira de tantas outras paradas.
Saímos da trilha e , à beira do pânico, passamos a subir e descer dunas enormes. O motorista sorria e pisava fundo no acelerador. A emoção fazia parte do programa. Duas horas depois , já no fim datarde, chegamos a um lugar onde havia duas tendas. Um árabe de pele escura ajudou os motoristas das caminhonetes a descarregar as caixas de comida e bebidas - até latas da proibida cerveja. Ele colocou a carne, de carneiro e de frango, numa churrasqueira portátil e acendeu o carvão.
Os motoristas, também guias turísticos, perguntaram se alguém queria fazer um passeio de camelo, a dez dólares por pessoa. Todos topamos. Um beduíno, que só falava árabe, nos ajudou a subir nos camelos e os puxou pelas rédeas por 100 metros, o suficiente para sentir a sensação de andar lá em cima, equilibrados sobre a corcova.
Depois do jantar (carne assada, batata, tomate), noite escura, saí a caminhar pela areia. Em poucos minutos as vozes foram sumindo. Caminhei até o silêncio e a escuridão do deserto me envolverem completamente.
SOL DE PRIMAVERA
As árvores são raras, os gramados um luxo regado a água reciclada do sistema de esgotos das cidades. E o sol em abril, plena primavera, eleva a temperatura a 33 graus, tornando as suas sombras especialmente convidativas.
Não faltam shoppings luxuosos, bonitos e enormes nos Emirados. O país não cobra taxas de importação, o que o torna um imenso free-shop.
AO MAR!
Neste estaleiro improvisado, embarcações fabricadas com técnicas transmitidas de geração em geração desde os antigos fenícios, mestres no comércio e na navegação.
ÀS COMPRAS!
Não faltam shoppings luxuosos, bonitos e enormes nos Emirados. O país não cobra taxas de importação, o que o torna um imenso free-shop.
Consumidoras russas, numerosas e facilmente identificáveis pelas roupas de gosto duvidoso, chegam a um shopping de Sharjah. A União Soviética havia se dissolvido dois anos e meio antes, em dezembro de 1991, e a população estava ávida por produtos ocidentais. As russas chegavam em aviões fretados da Aeroflot, faziam compras e voltavam no dia seguinte.


As leis do islã permitem ao homem ter tantas mulheres quantas possa sustentar. Todos os presentes dados a uma esposa devem ser dados também à(s) outra(s). As jóias são os presentes mais comuns, mesmo que só os familiares possam ver os braceletes, anéis, colares e brincos, ocultados sob as roupas. Além disso, o ouro, assim como camelos e cabras, é moeda de compra de uma esposa. Por isso, há muitas - e movimentadas - joalherias nos shoppings dos Emirados.
AO MAR!

2 comentários:
Que maravilha esta tua reportagem, bem dizer ao vivo e a cores! Digna de um prêmio jornalístico. Mesmo que se hoje, este lado bucólico esteja escondido atrás do paredão de arranha-céus, a atração deste mundo das 1001 noites, das tendas e dos camelos, segue alimentando nossa fantasia!
Herta, fico feliz com o teu comentário generoso. Um abraço
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