Cada vez que vejo um caminhão tombado, a carga esparramada à beira de uma estrada, me lembro de dois episódios que aconteceram comigo.
O primeiro ocorreu em setembro de 1972, quando dois motoristas de caminhão me deram carona sob a condição de mantê-los acordados numa viagem do Rio de Janeiro até Porto Alegre. Eles vinham de Recife, cada um dirigindo um caminhão carregado, estavam exaustos e tinham que entregar a carga dali a dois dias.
Eu passava duas, três horas em cada boléia, contando histórias e ouvindo-os falar de sua vida, da saudade da família, da dura vida, nada romântica, de encarar milhares de quilômetros Brasil afora.
De madrugada paramos para dormir algumas horas num posto de gasolina. Não aguentávamos mais de sono, e continuar seria perigoso. Prosseguimos a viagem de manhã cedinho e chegamos conforme o previsto, sãos e salvos.
Trinta anos depois eu dirigia numa terça-feira às onze e meia da noite pela "free-way" Porto Alegre-Osório quando um caminhão carregado de leite tombou na minha frente e a carga se espalhou pelas duas pistas da rodovia. Só pude reduzir a velocidade e controlar a establilidade do carro, que mergulhou naquele monte de caixas brancas. O motorista confessou que havia cochilado. Felizmente a perda foi só material.
A mesma sorte não tiveram os passageiros do ônibus atingido de frente por uma carreta desgovernada, na madrugada do sábado passado, no município de Descanso, em Santa Catarina. Dificilmente a causa do acidente será descoberta, mas a mais provável seja o cansaço do motorista do caminhão.
É preciso, urgentemente, que as autoridades brasileiras tomem medidas para evitar que motoristas profissionais submetidos a jornadas de trabalho exaustivas acabem perdendo o controle de seus sentidos e dos veículos que dirigem. Um cochilo de um ou dois segundos basta para causar uma tragédia.
É preciso respeito às jornadas de trabalho, proibição de tráfego de veículos de carga à noite e controle das condições de trabalho dos profissionais, inclusive pelas polícias rodoviárias. Cada caminhão tombado na beira da estrada é a comprovação de que no volante estava um homem sem condições de dirigir.
terça-feira, 8 de março de 2011
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Um comentário:
A TV Globo fez uma excelente reportagem sobre o assunto, exibida no programa Fantástico de domingo, 27 de março de 2011. Uma equipe percorreu nove mil quilômetros de estradas federais, e comprovou que:
- quase todos os motoristas de caminhão usam estimulantes (rebites, cocaína) para aguentar as jornadas de trabalho, e
- Não há fiscalização por parte da PRF.
As drogas são vendidas normalmente - até com o uso de cartões de crédito - nos postos de abastecimento.
Esta é - como também mostrou a reportagem - a maior causa de acidentes no Brasil.
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