terça-feira, 30 de julho de 2024

POR QUE POLUIR AS LAGOAS?



No fim da década de 1970 o governo de Santa Catarina anunciou a construção da Indústria Carboquímica Catarinense (ICC), para transformar o rejeito do carvão extraído na região de Criciúma em fertilizante e gesso. A ideia parecia excelente - o rejeito piritoso,  sobra do carvão depois de purificado, passaria a ser economicamente rentável,  além de proporcionar milhares de empregos. O local escolhido foi Imbituba, perto da lagoa de Imaruí.

Divulgado com grande destaque pelo governo, o projeto foi contestado por ambientalistas catarinenses pelos seus efeitos desastrosos no equilíbrio ecológico do sistema lagunar que vai de Laguna a Imbituba, um gigantesco criatório de camarões, com mais de 86 quilômetros quadrados, que deságua no mar em Laguna. A fábrica despejaria nas suas águas altas quantidades de ácido fosfórico e sulfúrico, letais para a vida marinha.

O assunto mereceu ampla cobertura da mídia, em especial do Correio do Povo, de Porto Alegre, então o jornal de maior circulação em Santa Catarina, com uma bem estruturada redação em Florianópolis. Brotaram protestos em todas cidades e vilas da região, pois a pesca e venda de camarão garantiam o sustento das mais de cinco mil famílias de suas margens. 

O projeto foi mudado: os efluentes foram canalizados até o mar, em vez de contaminar as lagoas. A fábrica foi privatizada dez anos depois, e hoje restam apenas ruínas dos prédios.

Mais de quatro décadas depois, a Corsan acelera a construção de estações de tratamento de esgoto (ETEs) em cidades do Litoral gaúcho. Aguardado com ansiedade pela população, o esgoto tratado é um direito básico. Por motivos diferentes, construtoras também pressionam a empresa, agora privatizada, a concluir suas ETEs, pois assim os Planos Diretores poderão ser alterados para que seja liberada a construção de edifícios. Xangri-lá e Imbé são dois municípios na mira dos empreendedores. 

Assim como no caso da ICC, o problema é que os projetos em andamento preveem o lançamento dos efluentes tratados nas lagoas que vão de Tramandaí até Capão da Canoa.  Em releases publicados na imprensa gaúcha, a Corsan garante que o líquido é limpo e não causará qualquer dano às águas - única fonte de água potável dos 18 municípios da região. Mas os estudiosos no assunto contestam esta afirmação. E há um exemplo:  em Osório uma ETE da Corsan foi fechada por ordem da Justiça em 2020 porque os efluentes estavam alterando a alcalinidade da água da lagoa dos Barros, onde eram despejados. As águas do oceano certamente absorveriam facilmente estes efluentes, sem causar danos ao meio ambiente. As lagoas localizadas entre a serra e o mar,  no litoral norte do RS, um ecossistema frágil, agredido por esgoto das cidades e pesticidas das lavouras


O rio Tramandaí, perto do ponto onde uma tubulação vai despejar os efluentes da ETE de Xangri-lá, pelo projeto da Corsan.




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