ANTES E DEPOIS DO COMPUTADOR
" Era proibido não fumar na redação".
A frase é do Peninha, também conhecido como Eduardo Bueno, ao descrever seu primeiro dia de trabalho no jornal Zero Hora, em 1976.
Até a informatização da redação, no fim da década de 1980, a situação continuava igual. Raros eram os repórteres que conseguiam escrever o lead de sua reportagem ou os editores que chegavam ao melhor título da matéria sem fumar um cigarro.
No início da noite, quando a pressão pelo fechamento aumentava, a fumaça formava uma nuvem junto ao teto do salão, mesmo com o ar condicionado funcionando. Fumava-se freneticamente, e o matraquear das máquinas de escrever tornava o ambiente insuportável para um ser humano normal.
Todos, fumantes ou não, saíam dali com as roupas fedendo.
De um dia para outro, tudo mudou. Os computadores não eram compatíveis com a fumaça, e as cinzas dos cigarros fatalmente danificariam os teclados. Fumar passou a ser proibido. A redação se tornou um lugar silencioso e já era possível voltar para casa sem estar cheirando a cigarro.
O fim daquele ambiente bagunçado afetou também o comportamento dos jornalistas. Cada um passou a se concentrar no seu terminal (era uma rede intranet), e as conversas, poucas, eram em voz baixa. Para fumar e fazer um lanche era preciso ir para o bar.
Mas houve alguns inconformados com a nova situação. Um repórter, recém chegado das grotas, entrou de botas embarradas, sujando o carpete recém colocado. A gerente administrativa, conhecida pelo seu pavio curto, correu com ele aos berros.
E, toda a semana, o colunista Melchíades Stricher chegava com sua crônica escrita à máquina - se recusava a usar o computador da redação para escrever - e, inconformado com tanto silêncio, bradava:
- Pandilha* de pica-fumo, isto aqui parece o IML na hora do pique!
Jack Lemmon, repórter, (sentado) e Walther Mathau, editor, no filme Primeira Página, um clássico dirigido por Billy Wilder.
O melhor repórter do jornal - daqueles que vivem para a profissão, sempre estressado, cigarro na boca e um uísque à mão - decide se casar e mudar de ramo para ter uma vida normal. Mas enfrenta uma feroz oposição do editor, que usa todos os seus recursos - oferta de aumento salarial, ameaças, chantagens - para não perdê-lo.
O final? Vejam o filme. É sensacional.
Redação de ZH, em 1987.
Foto de Ronaldo Bernardi
* Pandilha: quadrilha de malfeitores
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