Ao pedir demissão de seu emprego de repórter de Zero Hora, no final de 1988, José Otávio  Ferlauto me "repassou" uma amiga: a fisioterapeuta Cátia Correa, então casada com o médico Antônio Quintanilha, dono da clínica Dr. Quintanilha, especializada em problemas de coluna. 
Anos depois, Cátia se separou do marido e mudou radicalmente de vida. Acabou se mudando para Balneário Camboriú, em Santa Catarina, e nos perdemos de vista.
Há alguns dias, reconectados pela internet, Cátia - agora Catarina Correa da Silva - me mandou um e-mail perguntando pelo nosso amigo Dedé Ferlauto. Foi bem doloroso ter que informar que ele falecera há cinco anos em Florianópolis, para onde havia migrado.
Cátia me mandou então uma comovente crônica onde ela relembra como eles se conheceram e solidificaram uma bela amizade. E o dia em que nos tornamos amigos, por um de tantos gestos generosos de Ferlauto.
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Anos depois, Cátia se separou do marido e mudou radicalmente de vida. Acabou se mudando para Balneário Camboriú, em Santa Catarina, e nos perdemos de vista.
Há alguns dias, reconectados pela internet, Cátia - agora Catarina Correa da Silva - me mandou um e-mail perguntando pelo nosso amigo Dedé Ferlauto. Foi bem doloroso ter que informar que ele falecera há cinco anos em Florianópolis, para onde havia migrado.
Cátia me mandou então uma comovente crônica onde ela relembra como eles se conheceram e solidificaram uma bela amizade. E o dia em que nos tornamos amigos, por um de tantos gestos generosos de Ferlauto.
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Em 
primeiro lugar quero te agradecer por me dar a oportunidade de contar um 
pedacinho de minha história... De quando tive o privilégio de conhecer nosso 
grande amigo José Otávio Ferlauto... o grande Dedé.
Em 
1988, depois de ter escrito um release para o Jornal Zero Hora (via fax – o que 
era usado na época), dias depois recebi um telefonema marcando hora para uma 
entrevista.
O 
dia chegou, fui avisada da chegada do jornalista. Como havia chegado antes do 
horário marcado fui até a sala de espera para recebê-lo. Era Dedé Ferlauto, com 
sua bolsa de couro a tiracolo, seu “oclinhos” redondos e todo cerimonioso. Muito 
discreto e eu muito falante... Faltando minutos para ser atendido, ele pediu 
para conhecer a clínica e quais os procedimentos que ali realizávamos. Soube que 
ele tinha muitas dores na coluna lombar e uma de suas filhas tinha uma 
escoliose. Chegou o horário da entrevista e eu o encaminhei até o gabinete onde 
Quintanilha o aguardava.
Na 
Zero Hora de domingo, no caderno especial a página central inteira era a matéria 
sobre a cirurgia da coluna com aparelho recém-patenteado pelo INPI, foi um 
assunto inédito na época. Fiquei encantada pela maneira correta e impecável com 
que foi escrita.
Nesta 
época estava terminando meu primeiro livro que utilizaria para os pacientes do 
relaxamento que atendia em nossa clínica. Decidi ligar para Dedé solicitando sua 
apresentação do livro. Ele, por sua vez ficou relutante dizendo que não era 
crítico literário. Expliquei de como havia gostado de sua matéria, sua maneira 
clara e racional em descrever um ato cirúrgico e sem ter um senão. Depois de 
muito insistir ele pediu para levar o manuscrito até ele na Zero Hora. Corri 
para lá e lhe entreguei.
Outra 
cópia entreguei ao pajador Jaime Caetano Braun, que todos os anos era convidado 
para se apresentar no aniversário de nossa clínica, dia 18 de outubro e dia do 
Médico também.
O 
tempo ia passando e não tinha retorno de Dedé, passei a lhe ligar semanalmente e 
sempre havia uma desculpa. Quando já se aproximava o dia 18 de outubro, ele 
sentiu que eu não entregaria para mais ninguém fazer a apresentação do livro, se 
rendeu e disse: 
- Ok, vou ler.
Respirei 
aliviada e comecei minha contagem regressiva para o lançamento de meu 
livro.
No 
dia seguinte recebi seu telefonema marcando uma hora comigo, perguntei-lhe sobre 
seu melhor horário e marquei para aquela manhã mesmo. Estava ansiosa para saber 
o que ele queria comigo. Pensei, será que está aborrecido com minha 
insistência?
Chegou 
um pouquinho antes na clínica, passei meu paciente que estava a atender para 
minha assistente e fomos a um dos gabinetes para conversar. Sentei e ele 
permanecia de pé. Convidei-o para sentar ele disse que preferia ficar de pé, 
pois iria me fazer uma comunicação bombástica, ou melhor, vou te dar um “furo 
jornalístico”. Minha ansiedade e preocupação aumentavam a cada 
segundo.
Colocou 
um envelope sobre a escrivaninha e pediu para que não o abrisse primeiro deveria 
ouvi-lo. Eu me recostei na cadeira em que estava sentada e disse que era 
“toda ouvidos”.
Ele começou:
- 
Sabe, quando me pediste para ler teu livro, pensei: ich, uma dondoca, esposa de 
um médico famoso, quer entrar no embalo do marido e lançar um livro para se 
autopromover, deve ser uma baboseira. Mas ontem quando me ligaste resolvi ler 
para me ver livre da obrigação e não atrasar o lançamento deste bendito 
livro.
Na 
Zero Hora mesmo peguei o manuscrito e comecei a ler, ler, ler e reler. Quando 
acabei, senti um aperto muito grande dentro de mim e pensei: fui injusto em 
minha avaliação perante a tua pessoa, quero que me desculpes. 
Sorri 
para ele, e ele continuou:
Agora 
o furo de reportagem ninguém sabe ainda. Só, claro, o cara que ouviu meu 
pedido. Li 
teu livro e ele me deu respostas que passei a vida toda a procurar, você 
conseguiu abrir meus olhos e ver o quanto estava trilhando um caminho errado e 
me auto punindo.
E 
num único fôlego me disse:
- 
Pedi demissão da Zero Hora.
Espantada 
lhe disse:
- 
O que ?! Enlouqueceste?
Agora 
sim, podes ler o que escrevi sobre teu livro, é minha apresentação.
“Uma mulher se esparrama nestas páginas. Revela-se toda e também a seus habitantes mais íntimos. Desdobra-se, perscruta, avança sinais, revela verdades.
O relato poderá parecer demasiado simples, mas através 
dele (vencidos os preconceitos que me afastavam do tema) 
encontrei algumas respostas importantes e – pelo menos – uma fundamental, para 
muitas das perguntas que venho fazendo a mim mesmo desde o tempo da idade da 
dúvida.
Ela não precisa de apresentação. O livro o é. 
De mais a mais, o que é que eu estou fazendo aqui?
Dedé Ferlauto"
Com 
isso, iniciamos uma bela amizade de confiança e harmonia.
Passei 
a atendê-lo na clínica com seu problema na coluna e sua filha com sua 
escoliose.
Nossa 
amizade se fortaleceu quando um dia me ligou e me disse:
- Vou 
passar ai e te levar na Zero Hora, eu quero te apresentar um grande e 
educadíssimo amigo.
Ao 
chegar à Zero Hora levou-me até a sala que ele sempre me recebia e 
apresentou-me:
- 
Este é Clóvis Heberle, o grande amigo que te falei e que agora está em meu 
lugar.
Cumprimentamos-nos 
e Dedé falou para ti:
- 
Esta é uma grande amiga que já te falei, trate-a bem, pois é uma pessoa muito 
importante em nossas vidas.
E... 
A partir desse dia passei a ter um grande amigo chamado Clovis Heberle. 
Obrigada 
Amigo
Catarina 
Corrêa da Silva
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