-Se isto é um jornal! Aqui estão os artigos, as informações, as críticas: "Foi aprovada a tarifa especial n.1 não sei de quê... Foi despachado aluno pensionista do instituto, o sr. não sei quem... Parece que o sr. Fulano de Tal não quer ir para Mirandela, conservador... O sr. Cicrano vai fazer leilão de sua casa de penhores... etc. Isto é extraordinário. .. Tudo assim, do princípio ao fim... e duas colunas de "partiu", "chegou", "faleceu", "fez anos"...
Burros! E há três dias não recebo o Times...
O desabafo de Timóteo, personagem de A Tragédia da Rua das Flores, de Eça de Queiroz, vale para a maioria dos jornais brasileiros de hoje. Medíocres, submissos aos governantes, cheios de erros. O talento dos repórteres sufocado , just bricks in the wall da fábrica de notícias. Burros! E há três dias não recebo o Times...
Já houve tempos em que se fazia e lia jornais com prazer. Em que um bom repórter demorava um tempão - e jogava no lixo laudas e mais laudas - até chegar ao lead mais adequado ao assunto. E havia os copidesques, hoje raríssimos, vítimas do enxugamento das redações. Eles não só “limpavam”os textos como davam a eles forma e estilo. Se por um lado os copidesques garantiam um padrão de qualidade para o jornal ou revista, mascaravam as deficiências daqueles repórteres que sabiam – quando sabiam – apurar as informações mas tinham dificuldades para escrever. Muitas vezes o copy tinha que entrevistar o repórter para saber exatamente o que é que ele queria dizer...
Ao assumir a direção da redação de Zero Hora, de Porto Alegre, no início da década de 90, Augusto Nunes avisou: não queria jornalistas que não soubessem escrever. A decisão incluía a extinção de mesa de copidesques, responsável pela revisão das matérias de todas as editorias do jornal. Na prática, a tarefa passou para os editores e subeditores, e o processo de adaptação foi longo e penoso. Mesmo os melhores repórteres cometiam erros, e as reportagens tinham que ser adaptadas ao espaço disponível para elas na edição. Os editores ficaram sobrecarregados e o número de erros do jornal se multiplicou, provocando reclamações dos leitores.
Nei Duclós, um dos grandes jornalistas e poetas brasileiros, era copy por vocação. Deixou as marcas de seu talento nos mais importantes jornais e revistas brasileiros. Leia o que ele escreveu sobre o assunto em seu blog, Outubro:
http://outubro.blogspot.com/2011/05/copy-desk-o-anonimo-editor-de-texto.html
Clovis, a função de copydesk (ou copidesque) é de uma grandeza incrível. Além de possuir grandes conhecimentos, é preciso ter o ego muito bem administrado, porque o nome não vai para a vitrine. Gostei muito do teu post e do Nei Duclós! Ótimos!
ResponderExcluirNa verdade (hoje em dia ninguém afirma nada sem dizer "na verdade"...) o meu post é só uma introdução para esta crônica genial do Nei Duclós.
ResponderExcluirBons tempos dos copies.
ResponderExcluirCerta vez começamos a colecionar frases que eram colocadas nas matérias, do tipo 50% das mortes no Brasil são causadas por câncer, 30% por acidentes, etc. Cada atividade reivindicava um percentual. Ao final de uma semana e uma dezena de frases deste tipo chegamos a uma conclusão:
Estávamos todos mortos e não sabíamos.
Hahaha, tá boa esta. Para quem não sabe, a Cecy Oliveira foi uma das grandes copidesques de Zero Hora, junto com Paulo Cardone, Iara Mello e outros talentos anônimos.
ResponderExcluirBeijos,
Cecy!!!