O excelente filme Titanic (1997) envolve os espectadores no clima da viagem e, depois, nos horrores do naufrágio ocorrido na noite de 14 de abril de 1912, especialmente se for visto numa tela de cinema. No filme há ainda o romance entre dois passageiros, vivido por Leonardo Di Caprio e Kate Winslet. Mas a exposição Titanic, Objetos Reais, Histórias Reais, que iniciou em em Porto Alegre uma temporada em capitais brasileiras, causa um impacto muito maior. São fotos, vídeos e 200 objetos do navio e dos passageiros, resgatados em sete expedições realizadas entre 1987 e 2004 — os restos do navio foram encontrados em 1985, a quatro mil metros de profundidade.
Muito além de simplesmente expor os objetos, os organizadores da exposição trataram de envolver os visitantes na atmosfera da viagem. As primeiras salas recriam o clima no interior do navio, com seus salões luxuosos, as cabines de primeira e de terceira classes, as taças, talheres e louças dos restaurantes e até pedaços de pisos dos banheiros e do casco do navio, que pode ser tocado. A iluminação e a música colaboram para que o impacto seja maior.
Na fase seguinte, a música é substituída pelo barulho da casa das máquinas. Um enorme pedaço de gelo em forma de iceberg se destaca na semi-escuridão. Mas sair daquele ambiente opressivo não significa alívio: é a vez de caminhar entre objetos pessoais dos passageiros mortos: roupas, jóias, cartas, documentos, fotos, material de trabalho e notas de libras e dólares, que puderam ser recuperados depois de mais de oito décadas no fundo do mar.
A mudança é brutal: da expectativa de uma viagem inesquecível no melhor e mais luxuoso navio jamais construído à morte por hipotermia ou afogamento, nas águas gélidas do Atlântico Norte, a 900 milhas do porto de Nova York.
A mostra itinerante - há uma permanente em Las Vegas - já foi vista por mais de 22 milhões de pessoas em 85 cidades ao redor do mundo. Tanto interesse em torno de um fato ocorrido há quase cem anos pode ser explicado por este não ter sido apenas mais um acidente com centenas de vítimas. Assim como o iceberg que se encontrava na rota do navio, igualmente fatais foram a arrogância dos armadores, que se jactavam de ter construído um modelo "insubmergível", sua irresponsabilidade, ao darem prioridade à estética em vez de colocarem botes onde coubessem todos os 3.547 passageiros e tripulantes e não apenas 33 por cento deles, e a ganância: na pressa de zarpar o quanto antes, pois uma greve de mineiros de carvão havia paralisado toda a frota mercante nos portos ingleses, foram esquecidos os binóculos que permitiriam aos tripulantes de plantão naquela noite enxergarem a montanha de gelo a tempo de desviar dela e evitar o afundamento.
A mostra itinerante - há uma permanente em Las Vegas - já foi vista por mais de 22 milhões de pessoas em 85 cidades ao redor do mundo. Tanto interesse em torno de um fato ocorrido há quase cem anos pode ser explicado por este não ter sido apenas mais um acidente com centenas de vítimas. Assim como o iceberg que se encontrava na rota do navio, igualmente fatais foram a arrogância dos armadores, que se jactavam de ter construído um modelo "insubmergível", sua irresponsabilidade, ao darem prioridade à estética em vez de colocarem botes onde coubessem todos os 3.547 passageiros e tripulantes e não apenas 33 por cento deles, e a ganância: na pressa de zarpar o quanto antes, pois uma greve de mineiros de carvão havia paralisado toda a frota mercante nos portos ingleses, foram esquecidos os binóculos que permitiriam aos tripulantes de plantão naquela noite enxergarem a montanha de gelo a tempo de desviar dela e evitar o afundamento.
Arrogância, irresponsabilidade, ganância. Como nas vidas de tantas pessoas que transformaram sonhos em desastres muitas vezes sem volta.
A ilustração é a entrada para a exposição, cópia de um "boarding pass" da viagem inaugural do Titanic.
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